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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Sarcosuchus

© Don Foley

© Paul Sereno e Carol Abraczinskas
Veja quando viveu o "SuperCroc".
© Patrick Król Padilha
O Sarcosuchus, era conhecido até pouco tempo atrás, apenas por alguns poucos dentes e placas osteodérmicas fossilizadas encontradas nas décadas de 1940 e 1950 no deserto do Sahara, pelo paleontólogo francês Albert-Félix de Lapparent. No entanto em 1997 e 2000, o paleontólogo Paul Sereno encontrou na África meia dúzia de esqueletos, sendo que um deles tem metade perfeitamente preservada e praticamente toda a coluna vertebral quase intacta.
Os fósseis foram achados no Deserto Gadoufaoua, que faz parte do Deserto de Ténéré, o qual por sua vez faz parte do Sahara na região do Níger. O primeiro achado foi nos anos da década de 1940 e 1950, como citado anteriormente, porém em 1964 um crânio foi descoberto e chamou a atenção de Philippe Taquet. Depois de ser enviado à França, os fósseis foram estudados por France de Broin até 1966 quando foram formalmente descritos e nomeados, antes de serem devolvidos ao Níger.
Seu nome, criado por Taquet e Broin, provavelmente deriva do Grego, Sarco = carne, Soukhos = crocodilo e do Latim, imperator = imperador, o que talvez signifique "Crocodilo Imperador da Carne" ou "Crocodilo Carnívoro Imperador".
A outra expedição em busca de mais fósseis foi feita em 1997 por Paul Sereno, prosseguindo as buscas em 2000, em uma formação rochosa conhecida como El Rhaz Formation, a qual é datada dos estágios Aptiano até Albiano do final do período Cretáceo. Além de vários esqueletos e crânios de Sarcosuchus, Sereno recuperou pelo menos 20 toneladas de outros fósseis de variadas espécies.

Paul Sereno (de camiseta vermelha) e um especialista em répteis, comparando o crânio de um gavial atual com o de um Sarcosuchus ainda na rocha!
© National Geographic Society

Placas osteodérmicas e dentes fossilizados encontrados no Brasil parecem ser de um parente muito próximo do Sarcosuchus imperator, o que pode sugerir que a África e América do Sul estiveram ligadas ainda no Cretáceo, mesmo que por estreitas faixas de terra, ao contrário do que se pensava, pois supunham que neste período os continentes já estivessem separados.
Tal exemplar era composto apenas de uma vértebra e dentes, encontradas no estado da Bahia - Brasil, por Charles Frederik Hartt no século 19 e que inicialmente foram atribuídos ao dinossauro Megalossauro, já conhecido de fósseis da Inglaterra. No entanto, os fósseis foram estudados por Othniel Charles Marsh, que reconheceu o animal como crocodilo e nomeou-o Crocodilus hartti.
Posteriormente tal exemplar fóssil foi considerado pelo pesquisador britânico Arthur Smith Woodward, como sendo um exemplar do gênero Goniopholis, um crocodilo extinto encontrado na Europa. Porém percebeu-se que o focinho do Goniopholis era mais largo e curto do que deveria ser do crocodilo brasileiro, pois haviam encontrado a parte da frente da mandíbula inferior do mesmo e esta era alongada e estreita, descartando a ideia de que o gênero europeu seria o mesmo do sul americano.
© Tibor Szendrei
Só com a descoberta de bons restos do S. imperator na África é que puderam comparar o exemplar brasileiro com algo e para surpresa geral, o fragmento da enorme mandíbula inferior era igual ao do S. imperator. Assim sendo, o animal do Brasil foi renomeado como Sarcosuchus hartti, e devido à falta de melhor material fóssil, permanece com esta classificação.
Comparação entre o exemplar brasileiro e um africano
© Imagem adaptada do livro Dinosaur Impression de Philippe Taquet

Mas porque este crocodilo crescia tanto em comparação aos crocodilos atuais? Alguns cientistas acreditam ter encontrado à resposta nas placas osteodérmicas de um indivíduo que atingiu 80% do tamanho total e a partir de um estudo sugerem que o Sarcosuchus crescia durante aproximadamente 50 a 60 anos, quase a média de vida de uma pessoa. O maior espécime encontrado fez os paleontólogos imaginarem que também é o mais velho encontrado, atingindo idade bem avançada. O crânio deste gigantesco crocodilo podia atingir 1.78 metros, maior que o crânio de qualquer dinossauro terópode já encontrado.

Os paleontólogos usam os anéis das placas osteodérmicas dos répteis antigos para determinar a idade em que morreram, assim como os anéis de uma árvore. A cada ano uma "nova camada" se forma sobre a antiga e forma anéis que podem ser vistos num corte transversal. Cada anel teoricamente representa um ano, sendo que um Sarcosuchus com 80% de seu tamanho total usado no estudo, tinha osteodérmicas com 40 anéis, indicando que viveu por 40 anos. Alguns pesquisadores contradizem esta teoria, pois afirmam que esses anéis são difíceis de serem definidos em animais que viveram em climas sazonais sem temperaturas extremas, como é o caso da era Mesozóica.
O esqueleto mais completo não foi suficiente para determinar o tamanho máximo do animal, então o maior crânio encontrado foi usado para estimar um tamanho, baseando-se em crocodilos atuais, na proporção corporal em relação à cabeça.
Sarcosuchus e sua presa
© Não conheço o autor: se souber o nome, informe por favor



Paul Sereno afirma que assim como os crocodilos atuais tem duas fases de crescimento, inicialmente com uma taxa de desenvolvimento rápida e com o passar dos anos uma fase de desenvolvimento mais lenta, os exemplares extintos deste grupo deviam seguir o mesmo padrão.
Uma explicação plausível para o tamanho exagerado desse e de outros crocodilos extintos é que cresciam por mais tempo. Os animais atuais crescem até os 10 anos apenas, depois seu crescimento praticamente estabiliza e as mudanças são mínimas. Já o Deinosuchus por exemplo, crescia até por volta dos 35 anos, o que permitia chegar a um tamanho bem maior, assim como o Sarcosuchus.
© Paul Sereno e Michael Skrepnick

Além de ser um dos maiores crocodilos pré-históricos, este animal era muito bizarro, pois possuía mandíbulas muito estreitas e alongadas, ainda mais na juventude. Ao chegar a uma idade mais avançada seu focinho se engrossava, mas a diferença era pouca e a ponta perto das narinas ficava com uma forma mais arredondada. Essa forma é parecida com a encontradas em Gaviais, crocodilianos que existem nos dias atuais.
Crânio do Sarcosuchus e de um humano: veja que focinho bizarro
© Bone Clones

Porém, ao contrário dos Gaviais, espécie em que apenas o macho apresenta o calombo ou focinho arredondado, todos os Sarcosuchus encontrados possuem o focinho desta forma, ou seja, não é uma característica de dimorfismo sexual. Sereno indagou a especialistas em répteis atuais, o possível motivo de tal "protuberância", e as teorias criadas variam desde uma função auxiliadora do olfato até um sistema de vocalização. As mandíbulas são praticamente 75% do tamanho total do crânio contendo 132 dentes grossos e cortantes nas mandíbulas, que exerciam grande pressão ao morder, força que junto com os dentes adaptados para segurar, tornavam a fuga da presa quase impossível.
Dentes do Sarcosuchus
Tinha toda a extensão de seu corpo, principalmente a parte das costas, recoberta por placas ósseas que serviam de proteção e também para sustentar a massa de seu corpo. A maior placa tinha um metro de comprimento, mas ao ganhar em proteção, o Sarcosuchus perdia em agilidade e mobilidade, provavelmente porque algumas placas poderiam restringir determinados movimentos.
Esse é um dos maiores crocodilomorfos já descobertos, está entre os recordistas, ao lado do Deinosuchus e Purussaurus. Há duas teorias para seu comportamento alimentar.

1º - Caçador de presas grandes: Com certeza era carnívoro e um predador oportunista, que usa de emboscadas para capturar a presa. Podemos supor que este gigante ficava nos rios e lagos da África do início do Cretáceo, somente com os olhos para fora da água, que segundo Sereno eram adaptados a uma visão telescópica, permitindo ao animal ficar com o corpo todo submerso em maior parte do tempo, esperando que um animal, um dinossauro por exemplo, se aproximasse para beber água. Atacaria em um bote mortal arrastando a vítima para a água, com ajuda de seu focinho longo e forte e dentes preparados para esmagar e agarrar, que ajudariam a liquidar a presa, matando-a também por afogamento. Após o ataque rasgaria pedaços de carne e os engoliria sem mastigar, em casos de animais grandes demais para serem engolidos inteiros.
Sarcosuchus atacando o que parece um Nigerssauro
©
Todd Marshall
2º - Dieta piscivora: No entanto, os especialistas em crocodilianos atuais, põe em dúvida essa ideia de que os Sarcosuchus pudessem caçar animais grandes, porque seu focinho muito fino, estreito e frágil não suportaria um choque forte ou pressão grande e poderia quebrar ao tentar agarrar e arrastar um grande animal. Estes cientistas se baseiam em animais de hoje para isso, sendo eles o gavial já citado anteriormente, o falso gavial e o crocodilo de focinho delgado, todos com focinho fino e dieta baseada em peixes apenas, por não conseguir caçar grandes presas.
Então este animal e o gavial fazem uma dupla totalmente oposta ao atual Crocodilo do Nilo e o extinto Deinosuchus, ambos possuidores de mandíbulas largas e fortes adaptadas para caçar presas grandes.
Isso sugere que o Sarcosuchus é somente um equivalente ao Gavial, um grande piscívoro, ao contrário do contemporâneo Deinosuchus a América do Norte, que poderia caçar dinossauros. Mesmo assim o Sarcosuchus é muitas vezes retratado atacando dinossauros grandes, até o Suchomimus como pode ver a seguir.
Sarcosuchus ataca um Suchomimus
© Raúl Martín

Da mesma forma que os crocodilos atuais fazem diversos sons, o Sarcosuchus também devia utilizar de ruídos variados, desde roncos e guinchos a gritos e rosnados ferozes, entre outros sons, que serviriam para marcar território, atrair parceiros para acasalar, chamar membros da família, como filhotes pequenos e espantar predadores, que a julgar pelo tamanho do crocodilo, deviam ser poucos.
Porém um dinossauro poderia tentar atacar o Sarcosuchus, ou vice-versa. O Suchomimus, um grande terópode africano que media em torno de 11 metros de comprimento, viveu na mesma época e local que o Sarcosuchus, permitindo que em um encontro entre ambos surgisse uma violenta luta. Se o Suchomimus fosse arrastado até a água dificilmente sobreviveria, e o Sarcosuchus em terra teria desvantagens em relação à altura e agilidade do outro predador. Mas o crocodilomorfo não teria problemas em atacar dinossauros grandes, como Saurópodes, diz Paul Sereno, porque seu porte era tão avantajado que seria um predador do topo da cadeia alimentar naquela época.
Nada botava medo do monstro africano
©
Não conheço o autor: se souber o nome informe por favor

Devido à disposição dos dentes, alguns pesquisadores não acreditam na teoria de que o animal comia peixes como dieta primária, pois eram dentes moldados para segurar presas grandes. Em contrapartida se analisarmos o tamanho dos peixes que viveram na mesma época, veremos que eram grandes, maiores de 1,80 metros e pesando em torno de 100 quilos, senão mais que isto, podendo ainda contar com placas protetoras na pele em forma de escamas resistentes, o que pode explicar o alinhamento de dentes do crocodilo gigante. Podemos sugerir que o réptil se alimentasse basicamente de peixes e complementasse a dieta com animais terrestres, mas somente após estar totalmente desenvolvido, pois na época juvenil o focinho seria frágil demais para esta empreitada.
O Deserto do Sahara no Cretáceo ainda era uma planície tropical com vários rios, lagos e vegetação abundante. Mas ao contrário do que ocorre atualmente, com os crocodilianos que geralmente são todos parecidos, no Cretáceo da África não existia apenas um tipo de crocodilo no mesmo local, pelo menos 4 espécies diferentes e de formas variadas foram encontradas nas mesmas rochas de onde o "Supercroc" foi retirado.
Talvez o Sahara fosse assim no Cretáceo© John Sibbick
Foram encontrados até hoje fósseis da coluna vertebral, ossos dos membros, placas osteodérmicas, cintura pélvica e meia dúzia de crânios, que ao contrário dos crânios de dinossauros que são mais frágeis e se fossilizam menos, o dos crocodilos são mais resistentes e rendem mais fósseis.
O Sarcosuchus não é um ancestral dos crocodilos modernos, pois para ser considerado Crocodiliano precisa estar inserido no clado Crocodilia. O clado deste animal é o Pholidosauridae, um grupo mais distante dos crocodilianos.
O pobre Ouranosaurus não teve tempo de atravessar o rio
©
Ville Sinkkonen
IMPORTANTE: Não confunda Crocodiliano (que pertence ao clado Crocodilia) com Crocodilomorfo (indivíduo que tem forma de crocodilo). Existem também o grupo chamado Crocodilomorpha, répteis com forma de crocodilo derivados dos archossauros, grupo de que descendem também aves e dinossauros, incluindo também os crocodilianos.
Linha do tempo dos Crocodilomorfos
©
Raúl Martín e Mariel Furlong
O sucesso da descoberta foi tamanha que a National Geographic gravou um documentário sobre a descoberta do bichão, intitulado Super croc. Já a empresa Asylum fez um filme sobre um crocodilo gigante também intitulado Super Croc e parece que o animal do filme foi baseado no Sarcosuchus, embora não seja anatomicamente igual e tenha o tamanho exagerado. Foi criado também uma réplica do animal em tamanho natural, esculpida por Gary Staab, para ser exposta em museus, como você confere na foto abaixo, sendo uma cópia enviada à Austrália e outra a Cidade do México.
O escultor sobre sua escultura
© Gary Staab
O Sarcosuchus também aparece no documentário da BBC "Walking with Dinosaurs Special: Giant Claw and Land of Giants". É mostrado no episódio "Land of Giants", quando Nigel Marven volta no tempo por um portal até a América do Sul do Cretáceo e acaba enfrentando o crocodilo em um lago.
Sarcosuchus de WWDS: LoG & TGC© BBCVeja o tamanho do bicho perto do Argentinossauro
© BBC
O National Geographic Channel fez um documentário chamado Quando Crocodilos comiam Dinossauros recentemente e nesta produção temos o Sarcosuchus enfrentando o terópode Suchomimus.
A batalha dos gigantes
©
National Geographic Channel

Em forma de brinquedo, creio que o único modelo deste crocodilo disponível no mercado seja o da Procon CollectA, marca britânica que fez um modelo do animal, relativamente bom. Se quiser adquirir um, basta procurar na Dinoloja aqui no blog.
Boneco de Sarcosuchus da Procon CollectA
©
Blog do Ikessauro

Fontes

8 comentários :

Marilia Antunes Ferreira disse...

Teu blog é fera, de verdade mesmo..
E vc um apaixonado por dinossauros.. hehehe
parabéns pelo bloog! adorei mesmo ;)
vou aprender um pouquinho de dinossauros por aqui :D
beeijão, e obrigada pela visita
volte sempre..
;)

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http://mahhferreira.blogspot.com/

Henrique disse...

Ola, o blog esta bem interessante.
Só uma pergunta, Suchomimus significa crocodilo falso?

Patrick disse...

Oi Henrique
Suchomimus significa "Imitador de Crocodilo"

Anônimo disse...

Ola, excelente postagem.
Você sabe qual o tamanho do Sarcosuchus do Brasil(Sarcosuchus Harrti

Patrick disse...

Igor, não sei te dizer o tamanho exato, porque são restos bem fragmentários. Provavelmente seria mais ou menos igual o Africano, agora se for uma subespécie pode ser que fosse mesmo menor ou até maior. Se eu descobrir posto aqui.

Anônimo disse...

Oi Patrick, estou aqui comentando de novo porque soube de novas informações sobre o nosso Sarcosuchus Brazuca! Restos cranianos do nosso Sarcosuchus foram encontrados, eles medem cerca de 43cm, convém lembrar que é a parte apenas anterior a mandíbula, o crânio completo pode ter chegado ao tamanho do Crânio de S. imperator, se não chegou foi minimamente menor o que significa que nosso Sarcosuchus pode ter medido de 11 a 12 metros também ou pode ter sido um pouco menor, de qualquer forma ta entre os maiores crocodilianos. :)

Patrick disse...

Excelente notícia Igor! Bom te ver contribuindo aqui. Agora podemos dizer que aqui viveram dois dos maiores crocodilomorfos que existiram, o Sarcosuchus e o Purussaurus.

Anônimo disse...

exatamente Patrick, nessas horas da até orgulho de nossa paleontologia mesmo ela precisando melhorar muito.
Porém infelismente o título de maior crocodilo não é mais nosso, fiquei sabendo da descoberta de Aegisuchus um crocodilo africano nomeado este ano. Apenas um fragmento de seu crânio foi encontrado, o crânio completo devia medir entre 2,08 a 2,86 metros de comprimento (o que significa que o sarcosuchus perdeu o maior crânio dos crocodilos e consequentemente agente) as estimativas de tamanho são de 15 a 22 metros (tirando o trono de purussaurus).
pode confirir: http://en.wikipedia.org/wiki/Aegisuchus
a paleontologia vive nos surpreendendo, este até seria um animal interessante de se ver no ikessauro caso os problemas no blogger que você mencionou acabem